População é prejudicada tanto na rede pública, quanto na privada
Cidades do interior do Estado enfrentam grave escassez de clínicos gerais e especialistas: quanto menor o município, menor é a oferta. Os municípios que têm até 20 mil moradores contam com menos de um profissional para cada mil habitantes. Onde a população é de até 5.000, a relação cai para 0,51. Por outro lado, em BH, são cerca de 8,76 médicos por mil habitantes, um evidente desequilíbrio na distribuição de profissionais entre interior e capital.
Os dados são da “Demografia Médica Brasileira 2023”, organizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e consideram as redes pública e privada. No Estado como um todo, a média é de 3,16 médico para cada mil habitantes – mais, inclusive, que a média nacional, de 2,56. Quando são analisadas cidades brasileiras com até 500 mil habitantes, consideradas pela pesquisa como “do interior”, a média em Minas Gerais é de 2,41 médicos para cada grupo de mil pessoas, atrás apenas de Santa Catarina (2,54) e São Paulo (2,45), os dois mais bem-colocados. O Estado com o interior mais desassistido é Roraima: 0,15 médico para cada mil moradores.
“Na capital, as instituições têm melhores condições de trabalho, são mais bem-equipadas, têm equipes mais completas. No interior, às vezes o médico não tem (acesso a aparelho de) radiografia de qualidade, ultrassonografia, tomografia, ou seja, os métodos de diagnóstico. Isso deixa os médicos mais afastados do interior”, avalia a presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Ivana Melo.
Enfrentar dificuldade para encontrar médicos é comum para a dona de casa Irene Maria de Souza, de 57 anos, que mora em São João das Missões, cidade no Norte de Minas Gerais com cerca de 13 mil habitantes. “Quando vem um médico bom, eles acabam encontrando oportunidade melhor e são carregados pra outra cidade. E a gente fica ‘chupando dedo’. A verdade é essa”, analisa Irene. (Com Queila Ariadne)
O outro lado
O secretário municipal de saúde de São João das Missões, Jonesvan Pereira, afirmou que o município tem dez médicos para atender os 13 mil moradores, o que ele admite ser insuficiente. “Temos enfrentado dificuldade em contratar médicos em função da questão salarial (…). Temos tentado resolver isso, mas precisamos de mais recursos estadual e federal”, disse.
O que dizem os usuários
“Fui ao posto de saúde e não tinha especialista (em oftalmologia). Disseram que lá, em Patos de Minas, é meio difícil pra fazer o acompanhamento. Demoraram seis meses para me encaminhar a BH.”
Paulo Campos, de 65 anos, aposentado, morador de Patos de Minas, no Alto Paranaíba
“Está bem fraco de médicos em Curvelo. Quase toda especialidade que você precisa lá é preciso buscar em BH. Saio de casa às 2h e só chego às 18h. Tenho que ficar vindo sempre (à capital) para fazer exames, até o médico saber o que fazer.”
Moacir Dias, de 54 anos, aposentado, morador de Curvelo, na região Central de Minas Gerais
Estrutura em atenção básica é suficiente
Presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM), Marcos Vinícius da Silva Bizarro nega que as cidades do interior sofram com falta de estrutura para o exercício da medicina. “Todos os municípios mineiros têm condições de atender e têm estrutura, sim. Estamos falando de médicos que trabalham com atenção básica”, afirma ele, que é prefeito de Coronel Fabriciano, na região do Vale do Aço, e médico.
Ele argumenta que municípios sem estrutura para exames podem encaminhar os testes a cidades vizinhas, por consórcios intermunicipais, e completa: “Estrutura e exames não são para dar diagnóstico. O que um médico precisa para um diagnóstico é fazer uma boa história clínica”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou “que os municípios são responsáveis pela contratação dos profissionais (médicos) em seus territórios” e que contratar especialistas compete ao Estado. O órgão não respondeu se adota medida para compensar a baixa oferta de médicos.
Estado fará concurso
A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que tem 1.264 médicos para demandas de média e alta complexidade no Estado em 20 unidades. Concurso público, com provas previstas para o fim desse semestre, vai abrir novas vagas. O número de postos para médicos será divulgado após a publicação do edital, segundo a Secretaria de Estado de Saúde.
PBH nomeou novatos
Apesar de a capital mineira ter o número estimado de médicos acima da média nacional, queixas sobre falta desses profissionais são recorrentes, com destaque para a pediatria na rede pública. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa que, desde abril de 2022, nomeou 619 médicos aprovados em concurso e que mantém “banco de currículos para contratação imediata de médicos”.
Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/falta-de-medicos-e-grave-no-interior-de-minas-gerais-1.2845163