O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a onda de ataques da milícia ao transporte público do Rio de Janeiro na segunda (23) e à crise na segurança pública da capital foram provocadas, entre outros motivos, pela flexibilização da venda de armas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A declaração foi dada durante a live semanal “Conversa com o Presidente”, retomada nesta terça (24) após quase um mês em que Lula ficou afastado para se recuperar da cirurgia no quadril. A transmissão teve picos de 3,2 mil pessoas assistindo.
Segundo Lula, o Brasil como um todo vive um “problema crônico de enfrentamento ao crime organizado”, e que a situação vivida no Rio de Janeiro “termina sendo um problema do Brasil”.
“A liberação da venda de armas nesse país de forma atabalhoada fez com que o crime organizado se apoderasse de um arsenal que não tinha antes. Então ele pode comprar no mercado, autorizado, que é um crime contra o povo brasileiro”, disse, embora não tenha citado nominalmente o ex-presidente. No entanto, Lula é um crítico dos decretos assinados por Bolsonaro sobre o acesso às armas desde a campanha eleitoral.
Ele lembrou, ainda, do roubo de 21 metralhadoras e fuzis do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri (SP), e que “estava chegando na mão do crime organizado”. Lula, no entanto, não comentou eventuais responsabilidades, embora tenha a atribuição constitucional de ser o Comandante Supremo das Forças Armadas.
Além da flexibilização da venda de armas, Lula creditou a onda de violência no Rio às condições de vida da população. “Enquanto o povo sofrer, há uma possibilidade de crescimento do crime organizado. Tudo está ligado às condições de vida do povo”, disse.
Ele afirmou, ainda, que pretende criar mais um ministério da Esplanada, o da Segurança Pública, uma promessa de campanha que acabou sendo incorporada pela pasta da Justiça. No entanto, ainda está pensando em como deve ser a estrutura de atuação.
Lula disse que teve uma “longa conversa” com o ministro Flávio Dino, da Justiça, com o governador Cláudio Castro (PL-RJ) e que vai se reunir com José Múcio Monteiro, da Defesa, ainda nesta terça (24) para discutir como o governo federal pode auxiliar o Rio de Janeiro a combater as organizações criminosas entre milícias e facções do tráfico de drogas.
Ele, no entanto, descartou qualquer possibilidade de fazer uma intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro, como fez o ex-presidente Michel Temer (MDB) em 2018 e que, diz, “não adiantou de nada”. Na época, as Forças Armadas afirmaram que houve redução da criminalidade em oito de 12 tipos penais, como homicídios dolosos (13,6%), latrocínio (34%) e roubo de cargas (19%), entre outros. Já as mortes em confronto com a polícia dispararam quase 40%.
“Vamos ver como que a gente pode entrar e participar ajudando, não queremos pirotecnia. Não queremos tirar autoridade do governador e do prefeito, queremos encontrar uma saída juntos, a solução tem que ser compartilhada”, disse o presidente.
Para ele, é possível que a Aeronáutica reforce o patrulhamento nos aeroportos, a Marinha nos portos, e a Polícia Federal e as Forças Armadas atuem como uma força auxiliar, mas sem que passem para a sociedade a ideia de que vão resolver todo o problema do crime organizado.
“Vamos ajudar o Rio a voltar à normalidade e combater os milicianos, [as pessoas] terem o direito de ir e vir sem ser importunadas com ônibus queimado e bala perdida”, completou.